Democratização do Futebol através das Redes Sociais

Artigo de Opinião de João Matos Reis, comentador desportivo e profundo conhecedor do futebol distrital de Lisboa.

Pontapé de saída

As redes sociais fazem parte das nossas vidas, ocupam um tempo significativo do nosso dia, e tornaram-se muito mais do que ambientes de encontros e conversas. E para além de serem canais de entretenimento e relacionamento, são também de comunicação. Somos seres digitais conectados, mas sempre sociais, isso é inegável.

O Futebol mesmo o menos mediático, como caso da Formação e do Distrital, ganhou nos últimos anos uma projeção exponencial, fruto das redes sociais.

Para além da própria Federação, Associações e dos clubes, surgiram páginas coletivas e pessoas a divulgarem o fenómeno. E elas vão mais longe, porque a um clique de distância muitos surgem a opinar e comentar (parece que é o mesmo, mas não, já lá vamos), sobre vários temas: plantéis, jogos, lances de jogo, seleções, etc., tudo serve para ser analisado e emitir opinião.

Desde já e focando essencialmente no futebol distrital e abordando os “participantes”,  por norma, desde logo, refira-se que treinadores e jogadores, com exceções, surgem pouco nos comentários ou opiniões, estes mais oriundos de alguns analistas (amadores), sócios, adeptos e familiares dos clubes.

Conceitos:

Desde já referir algumas palavras chaves inerentes à temática deste artigo: Clubite, Análise SWOT e Opinião vs. Comentário.

– Clubite é um sentimento muito intenso de pertença ou afeição incondicionais por um clube ou por uma equipa desportiva, ele vai mais longe se no referido clube estiverem familiares ou amigos. Pois a clubite e os “laços” que ligam a alguém do clube tornam muitas vezes os comentários ou opiniões parciais.
– A Análise SWOT é um modelo analítico voltado para a avaliação e o desenvolvimento de planos estratégicos, partindo de um conhecimento completo sobre os fatores que envolvem as empresas, clubes, ou quase tudo o que se queira, como por exemplo um plantel de uma equipa. Essa análise pode (e convém ser abrangente), ter inputs e outputs, ou seja, tanto no âmbito interno quanto no externo. Para isso, a ferramenta foca quatro ‘pormaiores’, cujas iniciais formam o acrônimo SWOT: Strengths, Weaknesses, Opportunities e Threats, traduzido para a nomenclatura FOFA, que nada mais é que a versão portuguesa. Nesse caso, os componentes são: Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças.
– Temos também depois a diferença entre opinião e comentário e isso nas redes sociais é muitas vezes o que faz toda a diferença. O primeiro é um ponto de vista de alguém sobre determinado assunto, enquanto que o segundo vem após a exposição de um ponto de vista, com o objetivo de justificar essa ideia e dar-lhe credibilidade. No comentário há quase sempre argumentação, no fundo um recurso teórico utilizado pelo comentador a fim de persuadir o outro sobre tal assunto, ou seja, tentar convencer de que a sua opinião é correta e verdadeira e aí até se pode entrar num debate. Considero o debate útil, se for construtivo, já a opinião, é muitas vezes vazia e “perigosa”. Por exemplo, se alguém escrever “Não jogam nada!”. Já diferente se a opinião vier argumentada, vale o que vale, mas já se tenta explicar o ponto de vista. Por exemplo na  mesmo situação: “ Não jogam nada. O treinador não mexe na equipa, faz mexidas muito tarde. Eu penso que tem soluções no banco, o jogador x, y… Depois estamos a falhar muitos golos e a defesa está sempre intranquila.”  Ou seja, vai-se mais longe. Considero ainda “destrutiva” se for neste teor: “ Não jogam nada.!!! Deviam correr com todos, não merecem a água e sabão que gastam. Como sócio nem viam mais um tostão e o treinador que não percebe nada daquilo, é  só descidas…o Pior”…. aqui já entramos numa “conversa” altamente perigosa e nociva.

Intervalo

Forças/Vantagens 

As redes sociais possibilitam muitas atividades positivas. Para marcar eventos ou jogos treinos, para entrar em contacto com treinadores ou jogadores, etc. Há pouco tempo, eram poucos os que detinham essa informação (claro muitas vezes à custa de trabalho e organização), mas nos tempos de hoje, pelo Facebook, Instagram, Whatsapp e outros, chega-se a quem nos interessa, está facilitado esse trabalho.

Uma das grandes vantagens é a comunicação instantânea que as redes sociais oferecem. Podemos partilhar informações, notícias, eventos muito rapidamente, os acontecimentos do mundo do “nosso” futebol podem ser acompanhados e divulgados em tempo real. Para além de se verem jogos em direto, online, vai-se sabendo resultados dos outros jogos. Nisso, o futebol amador está ao nível do profissional.

Nos meios digitais podemos encontrar pessoas, grupos e assuntos que nos interessam e, no caso do futebol, há grupos de “interesses”. Por exemplo, notícias sobre árbitros em que alguém interage, desde logo, com membros do grupo. Há informação sobre clubes ou atletas e basta alguém ver e interagir em privado com a “tribo”. Sim, a tribo, o grupo e esse conjunto de interesses é positivo, claro que sim. Podemos encontrar artigos que nos interessam, estabelecer ligações, podemos também divulgar o nosso trabalho, mostrar as nossas capacidades.

E pensamos que o ex-líbris das redes sociais, neste caso associadas ao futebol, é serem canais de entretenimento, onde podemos ler artigos e publicações que nos interessam, ver vídeos, fotos. No fundo, conhecer.

Como se sabe, no período de pandemia, as redes sociais foram “vacinas” magníficas, pois houve interação, aprendizagens e transmissão de uma panóplia de conhecimentos.

As redes sociais dão-nos o conhecimento e isso é uma alavanca para tudo melhorar, tal como Isaac Asimov bem refere: “Se o conhecimento pode criar problemas, não é através da ignorância que podemos solucioná-los.”

Fraquezas/ Desvantagens

Uma desvantagem poderá ser a quantidade e qualidade das redes sociais, pois são tantas informações, tantas as novidades em simultâneo que muitas vezes acedemos a uma rede social por um fim específico e perdemo-nos em outras coisas que nos chamaram a atenção.

Se não mantermos o foco, podemos perder horas e horas a “desperdiçar” tempo. Além disso, muitas vezes esquecemo-nos da nossa vida ‘real’, tornamo-nos seres muito sociais nos meios digitais e deixamos de ir aos jogos, estar no fundo a conviver em tempo real e não virtualmente.

Por vezes (infelizmente muitas vezes) falta o bom senso e há ataques cerrados, cruzados, e alguns são mesmo “violentos”. As palavras, também magoam e de que maneira. Muitas vezes também há más interpretações, visto as publicações ou comentários não terem “sentimentos”, as palavras são destituídas de embelezamento ou sequer de entoação, valem o que valem, claro que os bons adjetivos e os emojis ainda dão algo de colorido, mas as palavras são negras, quase sempre, e por vezes até parecem duras, mas por vezes não o são.

Fim do Jogo – Prolongamento

Ameaças

O direito à privacidade e á imagem, assim como os direitos de autor, são um risco nas redes socias. Existe o partilhar e aí o autor está referenciado, na cópia, e muitas vezes ou quase sempre o texto ou publicação integral, em 90% dos casos não se colocam as fontes.

Depois, mesmo quando se vai a um jogo e se tiram fotos aos clubes, aos atletas e muitas vezes se publica, pode-se (seria exaustivo) solicitar permissão a todos, pode-se correr riscos, pois cada pessoa tem direito a que a sua imagem não seja exposta. Tive já alguns casos onde algumas pessoas me pediram para retirar as fotos e assim o fiz. Poderia levar-me a não mais o fazer para tantos outros, mas não!! E temos de perceber que quem pediu tem a sua razão e respeitamos.

E a palavra respeito, se não for compreendida e aceite, aí sim é perigosa. Já vi situações onde uma publicação e troca de comentários levou a um processo no Tribunal, porque uma das partes se sentia difamada. Essa é quanto a mim a maior ameaça, o que leva depois muitos a não aderirem.

No entanto, como em tudo, tem de haver bom senso e quem coloca fotos, por exemplo, sendo o objetivo divulgar clubes, dirigentes, treinadores atletas etc., todos devemos aceitar que nos “saquem” fotos, claro, colocando a fonte (mas por vezes, o objetivo é informar na hora).

Os perfis falsos ou as fakenews são efetivamente ‘pormaiores’ negativos, com tudo o que isso representa. Mas o Facebook tem vantagem sobre os blogues, pois aí o perigo dos anónimos é tóxico, felizmente como Facebook, existem em 99% das situações uma associação a pessoa real e mais de 75% com fotos dos mesmos.

Outra ameaça é o timing das publicações. Se for fora de horas, passados uns dias, a novidade já passou. Nas redes sociais, as ameaças são geralmente caracterizadas por uma mudança no comportamento do público. Então é preciso monitorizar, estar atento, e os ‘likes’ e comentários podem ser uma forma de estar a ver como as coisas estão a funcionar.

Oportunidades

As oportunidades todos as conhecem e seria exaustivo aqui elaborar uma ‘check list’ de ‘pormaiores’ positivos das redes sociais para o “nosso” futebol.

Dar a conhecer o clube e os agentes desportivos, esse marketing pode (e deve ser feito) nas redes sociais, por isso, porque todos podem comentar, as redes sociais democratizaram o futebol.

Todavia é preciso ter bom senso e saber avaliar o que pode trazer uma imagem positiva, os ‘pormaiores’ positivos, e por isso deverá ser efetuado por pessoas capazes e conhecedoras do clube e do meio de envolvência. Já existem clubes amadores a “promoverem” muito bem o seu clube e os seus elementos.

Uma outra oportunidade é jogar na antecipação. Como a internet muda com extrema velocidade, temas relevantes hoje podem mostrar-se obsoletos amanhã.A solução, então, é antecipar-se às tendências e desenvolver conteúdos com palavras-chave que apresentem um bom potencial de crescimento a curto prazo. Exemplos? Galas, colóquios e eventos, independentemente do seu caráter, costumam gerar uma grande captação do público nas redes sociais. 

Estar atento aos fatores externos da estratégia e apostar em palavras-chave. Como sabemos, o uso dos termos mais apropriados pode atrair as pessoas diretamente aos seus conteúdos, permitindo a ‘aquisição’. Por exemplo, se estivesse associado a algum clube, três palavras chaves: Futebol Sénior, Futebol Formação e Futuro. Seria para aí que “canalizaria” a informação do clube e tratar as três balizas da mesma forma, sim 3 balizas, quiçá já numa perspetiva de futuro.

Importa captar a migração do público de outras redes. Mesmo com o surgimento de novos canais, importa ter uma presença digital já consolidada, porque nas redes sociais também se joga.

Penáltis

E já estando nos penáltis, pois o prolongamento já decorreu, e para terminar referir que as  redes sociais são parte das nossas vidas e podem ser muito benéficas se usadas de forma consciente e criativa. É mesmo uma “arma” poderosa e eficiente, mais que não seja para acabar com o obscurantismo de alguns que não querem ver este nosso futebol a ser colorido e que o querem ver sempre cinzentão. 

As redes sociais serão o pincel e todos nós as cores que dão o colorido.