
Para quem só agora vai tomar conhecimento é uma grande surpresa saber que foi este insigne filiado na centenária Associação de Futebol de Lisboa – a mais antiga – que teve a ideia de numerar as camisolas dos seus jogadores, iniciando, assim, uma prática em Portugal com muito impacto e utilidade.

Comecemos por dar conta de que o C.O.L., como é carinhosamente conhecido na comunidade futebolística e não só, é um clube eclético, dinâmico e muito acarinhado pelos seus fiéis adeptos e associados, foi constituído em 8 de agosto de 1946, graças à fusão de três importantes referências que existiam na parte oriental da cidade de Lisboa, o Chelas Futebol Clube (fundado em 25 de dezembro de 1911), o Marvilense Futebol Clube (2 de novembro de 1918) e o Grupo Desportivo “Os Fósforos” (1 de setembro de 1920), enquadramento esse que foi imensamente vivido na altura, com a Assembleia-geral constituitiva a manifestar-se em peso e com entusiasmo (ver foto) pela criação de um clube, se possível com mais capacidade e mais massa associativa para responder às exigências que o futebol já na altura pedia.

Quanto à brilhante iniciativa de colocar números nas camisolas foi proclamada, como surpresa, em vésperas do COL disputar o seu primeiro jogo oficial, que ocorreu no dia 15 de setembro de 1946, com o Clube de Futebol “Os Belenenses”, nas Salésias, com o qual perdeu por 2-1 e que contava para a primeira jornada do 41º Campeonato da 1ª Divisão Distrital, promovido pela Associação de Futebol de Lisboa.

Foi o seu presidente, Rui Seixas que noticiou a inovação, e, na verdade, os jogadores do Oriental foram para o jogo com as camisolas numeradas do 1 ao 11, pese embora não fossem as encomendadas a Espanha, de cor grená, que só chegariam no mês de outubro, mas sim, perante um remedeio circunstancial, com camisas brancas a serem tingidas de carmesim e utilizado emblema de recurso, que não o já aprovado, como se pode constatar na última imagem.
Houve comentários de três especialistas da modalidade, jornalistas, que disseram: Cândido de Oliveira: “A decisão do Oriental numerar os jogadores merece relevo e é digna de ser seguida por todos os clubes”. Alberto Freitas: ”Há, também, que louvar a iniciativa do Oriental numerando e apresentando os jogadores ao público – o que entre nós constituição inovação. Há muitas vantagens no facto – para os espetadores, para a crítica e para o Árbitro. Permite referenciar muito mais facilmente os jogadores. O método deveria ser adotado pelos outros clubes”. José Valente: “Os jogadores visitantes, como já se sabia, apresentaram-se com as camisolas numeradas. O facto é de registar nestas colunas por se tratar duma inovação entre as equipas portuguesas cujo benefício o público reconhecerá com o decorrer do tempo e das competições. Mas, precisamente por uma vantagem já ter sido apregoada tantas vezes através da imprensa – a novidade não espantou a assistência. Parecia haver a impressão que “aquilo” já se usava há muito entre nós…”
A Federação Portuguesa de Futebol, na época 1947/1948, determinou o uso obrigatório da numeração nas camisolas e, muito mais tarde, permitiu que se utilizasse números para além do onze, mas somente até ao 99.
Esta ideia das camisolas numeradas já tinha sido desenvolvida na Austrália, em 1911, pelos clubes Sydney Leichdhart e HMS Powerful; nos Estados Unidos, em 30 de março de 1924, pelo Fall River United no desafio com o St. Louis Vesper Buick; e na Europa, em 25 de agosto de 1928, pelo Sheffield Wednesday, no encontro com o Arsenal.
A heterogeneidade do Clube Oriental de Lisboa certifica-se pelas modalidades praticadas: Andebol, Artes Marciais, Basquetebol, Campismo, Corrida, Cultura e Recreio, Futebol, Ginástica, Hóquei em Campo, Luta, Natação, Náutica, Polo Aquático, Ténis de Mesa, Triatlo, Voleibol e Xadrez, com atenção redrobrada no objetivo do futebol de formação, que é dar prioridade ao desenvolvimento dos jovens atletas, nomeadamente os valores e princípios éticos, morais e físicos.
Nota: Este artigo só foi possível pela gentileza de Vítor Figueiredo, ilustre historiador do COL, autor do livro “Histórias do nosso clube”.