Artigo de Opinião, publicado na AFL Magazine de Julho, da autoria de António Rodrigues, advogado.
O futebol mostra-se em profundo processo de mudança e de crescimento. A atração que a modalidade capta permanentemente há mais de um século, segue liderante em diversos domínios buscando novos públicos assumindo a alteração de valores, por vezes aparentando uma vertigem imparável tal o modo como a tecnologia se cruza com a ambição, os princípios conjugam com a modernidade. O futebol passou de desporto mundial, para uma dimensão de entretenimento universal e de aceitação absoluta. Os estádios de nova geração passaram a oferecer comodidade. Os protagonistas, homens e mulheres, atletas, árbitros e dirigentes surgem com naturalidade em todas as dimensões.
O futebol assume aliás uma dimensão maior, de gerações, de competições nacionais e internacionais, de sub-modalidades fielmente seguidas em todo o mundo. Das competições jovens ao futsal, da formação e das academias, das transferências milionárias, da inovação em VAR, linha de baliza, tipo de equipamentos, bolas ou calçado tudo muda tudo se projeta. Tudo menos as leis do futebol. Essas parecem imitações como as dez tábuas, aqui expressas em 17 regras de origem tão antiga quanto a segunda metade do século XIX em Inglaterra pois claro. Ninguém fica indiferente ao futebol hoje, quer como espectador, participante ou simples cidadão (mais ou menos informado). Cresce o futebol feminino, crescem a indústria da formação, ensaiando transferências a estes níveis com crescente valor e interesse.
O futebol fascina em todas as dimensões e desencadeia paixões, interesses e polémicas. Isto é espetáculo isto é absorvente, isto é para continuar a captar o interesse universal. Aliás um espectador atento mesmo não empenhado constata a diferença no que o futebol se está a transformar. As imagens do novo estádio do Real Madrid não deixam ninguém indiferente como o cuidado e atenção dada ao desenvolvimento da modalidade e às preocupações de modernidade e de conforto para os espetadores se sentirem numa sala de espetáculos digna da maior grandiosidade. Situação não comparável com os milhares de campos onde se pratica a modalidade pelo mundo fora e longe da bola de trapos com que brincávamos na adolescência tarde.
Os campos de futebol de divisões inferiores com piso de terra alguns, em evolução constante desde que integrados em competições tuteladas associativamente e que já obrigam a dimensões oficiais e tipologia de piso começaram por ser uma ambição e atualmente constituem uma obrigação. O conforto começou a ser uma preocupação nos estádios do século XXI que coincidiu em Portugal com a realização do Euro 2004.
É neste binómio que se vai notar a diferença, entre o futebol espetáculo de grande intensidade e o futebol de carinho de grande emoção. Locais, tecnologia, protagonistas e tecnicidade, acompanhados de transmissões televisas de topo típicas de grandes eventos e com o recurso á mais elevada criatividade que eleva o desporto ao nível das maiores produções. Tudo isto já existe, está ainda em aprofundamento, mas demonstra um investimento e a busca de um retorno financeiro mais que desportivo. Os desafios do futuro vão estar aqui. Para que caminhos seguirá o futebol e Portugal não pode ficar alheado deste processo. Porventura num crescente desligamento do futebol do coração e uma crescente atração ao futebol da imagem. Olhando aos números de espectadores presentes nos nossos estádios em comparação com outros países tal pode fazer o futebol nacional perder uma paixão.