Dirigismo Desportivo, Treinadores e Inteligência Emocional

Artigo de Opinião, publicado na AFL Magazine de Julho, da autoria de Sérgio S. M. Fonseca, Docente e Executive Coach. Publicamos a primeira parte do artigo, a segunda parte será publicada na AFL Magazine de Dezembro.

“Procure ser uma pessoa de valor, em vez de procurar ser uma pessoa de sucesso. O sucesso é consequência”.
Albert Einstein

A Inteligência Emocional apresenta-se como um dos maiores desafios das relações sociais e humanas, quer em contexto societal quer profissional.

A necessidade de uma estrutura idiossincrática forte, bem como a condução de comportamentos assentes num Código de Ética e de Conduta, por um lado podem ser fatores determinantes para o sucesso da gestão emocional, por outro lado, tendem a corroborar o pensamento de Aristóteles de que o homem é um animal social, ou seja, a sua realização pessoal parece consubstanciar-se na relação com o Outro, tal como a sua própria descoberta.

As relações humanas são, na sua essência, relações grupais e, por isso mesmo, são relações que se constroem em torno de um todo social organizado. O Dirigismo Desportivo e o exercício da profissão de Treinador a si também pertencem.

A gestão das relações sociais e humanas será resultado de um trabalho conjunto e estrategicamente estruturado, o que permitirá garantir a sobrevivência das organizações em contextos fortemente competitivos. Uma gestão socialmente inteligente e de compromisso não dispensará, portanto, uma gestão competente das emoções.

Autoconsciência e Autocontrolo

De forma simples, a Autoconsciência é a capacidade para compreender profundamente as emoções da própria pessoa, assim como as qualidades, as limitações, os valores e a motivação. Estudos indicam que pessoas dotadas de forte Autoconsciência são realistas, nem demasiado críticas em relação a si próprias, nem ingenuamente confiantes. São honestas consigo próprias, em relação às suas próprias características, assim como são honestas sobre si próprias na relação com os outros, a ponto de serem capazes de rir das suas próprias fraquezas. Enquanto líderes, Dirigentes Desportivos e Treinadores, se dotados de Autoconsciência, conhecerão os seus valores, objetivos e sonhos. Sabem para onde vão e porquê. Estão sintonizados com o que “sentem” que é adequado a si próprios. Inversamente, as pessoas que não são dotadas de Autoconsciência têm tendência para tomarem decisões que afetam valores profundos e que desencadeiam turbulência interna, afetando o que se designa de sintonia, relação que exprime o nível de interação nas dimensões intra e interpessoal.

O desenvolvimento do Autocontrolo permitirá a adaptação profissional e pessoal a diferentes situações, levando a respostas adequadas e moderadas. Pela autodisciplina pode-se conseguir comunicar de maneira regrada e tranquila, favorecendo respostas conciliadoras e desfechos pacíficos. Parafraseando Augusto Cury, “não podemos controlar a emoção gerada por um impulso, mas podemos recorrer ao Autocontrolo para dar uma resposta adequada a essa situação”.

A Empatia e seu impacto na atividade desportiva: reconhecer as nossas emoções e as dos outros

Segundo Branco (2004), as expressões emocionais não-verbais são importantes nas relações interativas pessoais. Estudos ligados ao Contágio Emocional, à Empatia e Contratransferência Emocional (feedback), levam vários autores a concordar que alguém, ao interagir com outrem, tende a mostrar expressões emocionais congruentes com a expressão emocional de quem envia essa mensagem emocional. Por oposição, a dessintonia é predadora das capacidades de leitura social, dos relacionamentos e, consequentemente, do altruísmo. A dessintonia reduz a Empatia, logo será contrária à normalidade humana.

Significa, então, que a Empatia passa por um fenómeno de partilha, como dito, de sintonia emocional. A expressão emocional do recetor pode refletir o estado emocional do emissor ou mesmo demonstrar a compreensão sentida do ouvinte, relativamente a quem emite sentimentos. Pessoas empáticas serão mais propensas e capazes de «ler» os sentimentos dos outros, entrando em sintonia. Este fenómeno de natureza intra e inter-relacional deverá ser objeto de trabalho formativo em contextos competitivos, mormente no Campo Social Desportivo.

A Empatia, assente na habilidade de saber como os outros se sentem (Goleman: 2002), torna-se reveladora da sua importância no modo assertivo e no enfoque dado aos objetivos traçados para a construção de uma relação interpessoal competente, neste caso, a relação entre Dirigentes Desportivos, e Parceiros Estratégicos (Comunicação Social, Adeptos, Sócios, Banca, Sindicatos dos Jogadores,…), ou no caso das Equipas Técnicas, a sua relação os Dirigentes, o Plantel, os Adeptos, a Comunicação Social, entre outros. Significa então que a verdade emocional do se que comunica reside mais no modo como se diz algo e não naquilo que diz.

Sérgio S. M. Fonseca