Artigo de Opinião de Castanheira de Oliveira, Diretor de Relações Institucionais da Associação de Futebol de Lisboa.
Muitas décadas atrás indivíduos a quem pouco era oferecido e cujo sentido de comunidade os levava a participar ativamente na preservação do património comum e na concretização dos projetos individuais ou coletivos, almejando, todavia, a felicidade e o bem-estar de agregados populacionais, mais ou menos vastos a que pertenciam, uniram-se para que surgissem obras de caráter cultural, assistencial, de lazer e, entre outros, de desenvolvimento da prática desportiva.
Existe memória viva, muito acervo documental e fotográfico que nos permitem ver pessoas dos mais diversos misteres e condição social a participar na construção de edifícios para uso futuro por novos e velhos e que possuíam as mais distintas valências, desde o salão de baile, o “café” com um dos poucos televisores da terra, em momento mais avançado, a sala de jogos, etc.
O Futebol afirmou-se como atividade de interesse quase geral, sendo a sua prática pelos mais jovens e fisicamente mais aptos o motivo determinante para outro tipo de empreendimento: a construção de campos de futebol.
Sem maquinaria de grande porte, foram os braços e os utensílios agrícolas daqueles pioneiros, completados por alguns apoios de um ou outro (particular ou empresa/Instituição, a quem apelavam) que deram existência aos pelados da nossa juventude e que ainda hoje, ocasionalmente, conseguimos encontrar em condições de serem utilizados. Fizeram o possível e concretizaram, a seu modo, sonhos coletivos.
Esse empenhamento na vida social, com meios próprios e dando-se efetivamente ao serviço de todos conduziu ao acréscimo do número de dirigentes associativos que, benevolamente, assumiram novas e indispensáveis tarefas, muitas delas exclusivas da prática desportiva, desde a garantia das condições dos campos, transporte de atletas, procedimentos burocráticos…
A compensação obtida (quando existia) passava pelo reconhecimento público pela sua dedicação e o respeito dos seus concidadãos. Nada exigiam e a nada mais aspiravam tendo plena consciência do facto de as Instituições sobreviverem aos indivíduos.
Os tempos são outros, ou assim nos querem fazer crer, mas o legado que recebemos dos muitos anónimos que nos precederam tem um valor intrínseco inestimável e, com os seus valores perenes e ainda reconhecidos, deverá ser tido como o alicerce sólido do que o futuro nos permitir construir.
A Sociedade está em acelerada mudança, por vezes tida como de autodestruição, mas os Dirigentes associativos atuais que já não marcam campos, vêm-se confrontados com uma panóplia de diplomas legais, regulamentos e responsabilidades inerentes à atividade desportiva que impende pesadamente sobre profissionais e benévolos.
Se a alguns daqueles corresponderá uma compensação material significativa já a estes resta o consolo do Dever cumprido e o sentimento de defesa dos “velhos” valores. Embora com moderna roupagem a função social dos Clubes continua a ser desenvolvida e mantém o seu carácter de indispensabilidade.
No entanto, todos estão permanentemente na mira dos novos senhores das redes sociais, clarividentes, justiceiros, opinantes e quase sempre parasitas!