Artigo de Opinião de António Rodrigues, advogado, que foi publicado na edição n.º 12 da AFL Magazine.
A ascensão do futebol feminino representa uma das maiores evoluções sociais e desportivas verificadas na última década. Acantonadas ao conceito e domínio masculino, as futebolistas mostraram com personalidade que se equivalem em técnica tática e deslumbre ao das modalidades mais fechadas até muito recentemente.
Com o apoio dos principais clubes nacionais o futebol feminino em todas as suas dimensões quer em termos de idades ou de variantes, fez despertar o interesse público e da comunicação social e o nascimento de clubes ou a abertura dos atuais.
Sem a força ou a agressividade da vertente masculina o interesse no desenvolvimento da modalidade cresceu exponencialmente. Os sucessos em termos de clubes e da seleção nacional, o reconhecimento internacional da qualidade das atletas, a atração das jovens que começa a mostrar-se com ambição e qualidade atrai público, atrai televisão, cativa audiências.
Começam a bater-se recordes de assistência a jogos e em particular nos novos dérbis, sendo já possível ter presente num estádio mais gente do que em jogos de primeira liga.
Quebrado o tabu pela verificação real da tática que não pede meças aos equivalentes masculinos, o futebol feminino ganha muitas vezes em técnica e seguramente em graciosidade.
Curioso este desfasamento de relevância pública quando remonta ao final do século XIX o primeiro jogo oficial entre equipas inteiramente constituídas por mulheres sujeitas às mesmas regras que os seus colegas masculinos. No Reino Unido claro, a pátria do futebol. E acompanhando também aí, o princípio da emancipação da mulher que tem levado décadas a afirmar-se, mas por mérito próprio, ganha a sua carta de alforria.
Hoje o futebol inunda-se da sua vertente feminina numa clara demonstração que o futebol não é apenas para homens. Equipas de arbitragem, treinadoras, equipas médicas ou de fisioterapia estão agora presentes numa evidente demonstração de igualdade.
Hoje há já nomes de referência que despontaram no futebol nacional e foram de imediato transferidas para os clubes estrangeiros. Como ainda se mantem ainda em território nacional um conjunto de atletas cujo nome rivaliza em reconhecimento com os jogadores dos grandes clubes portugueses. Os mais atentos ao fenómeno desportivo convivem com os nomes de Ana Borges, Andreia Norton, Kika Nazareth, Jéssica Silva, Andreia Jacinto ou Joana Marchão, todas titulares da seleção nacional e dos grandes nacionais ou de clubes europeus.
Embora a nível de clubes tenham sido clubes menos sonantes que desencadearam a nova vaga do futebol feminino, foi a entrada em cena dos grandes clubes da Associação de Futebol de Lisboa, primeiro o Sporting e mais tarde o Sport Lisboa e Benfica, que criaram esta onda de visibilidade. Mas não se pode esquecer o trabalho de formiga iniciado nos clubes mais pequenos que acabam por fornecer atletas e que ainda promovem a formação ao nível dos escalões inferiores, constituindo uma alavanca gigante em prol do desenvolvimento real da modalidade.
A Europa cedo percebeu este movimento e é frequente encontrar os grandes clubes europeus envolvidos em grande medida neste movimento imparável de modalidade em ascensão e aceitação pública. Chelsea, Manchester City, Bayer de Munique, Barcelona ou Paris SaintGermain constituem grandes parceiros neste processo. E onde se disputa desde o início deste século a Liga dos Campeões Feminina da UEFA.
Não há volta a dar, nem retrocessos a temer (embora o Reino Unido tenha tido uma inflexão, por volta dos anos 20 do século XX de quatro décadas de suspensão) o futebol praticado por mulheres não apenas veio para ficar, como resulta natural a sua prática e os espetadores – homens e mulheres – apreciam a modalidade, praticam-na e seguem-na. Por direito próprio e dimensão expressiva, esta modalidade tem futuro. Já no presente.
Só devemos ficar satisfeitos por fazer parte deste processo.