Competências técnicas e comportamentais

Competências técnicas vs. Competências comportamentais no futebol de formação e futebol lúdico – uma relação mutualmente vantajosa!

Na corrente época desportiva 2024-2025, a Direção da Associação de Futebol de Lisboa decidiu, por unanimidade, introduzir no Regulamento do Cartão Branco – Prémios Fair-Play, uma nova cláusula penalizadora. Assim, todas as equipas do futebol de formação e do futebol lúdico cujos agentes desportivos sejam castigados temporalmente por motivos comportamentais, serão desclassificadas. 

Pretende-se, com esta nova cláusula, incentivar os agentes desportivos a adequarem os seus comportamentos no decorrer dos jogos de forma a serem elementos de pacificação e não elementos de agitação. Os agentes desportivos não podem contribuir para um clima de tensão e agressividade, ainda para mais sabendo das consequências negativas que essas atitudes induzem em todos os participantes no evento!

Infelizmente, um mês após o arranque das competições abrangidas e tendo em conta as notas informativas já publicadas, os resultados são muito preocupantes. O elevado número de equipas já desclassificadas impede que um número significativo de jovens atletas possam ambicionar a conquista do troféu fair play.

Os agentes desportivos, verdadeiros líderes da formação de jovens e crianças, são obviamente referências éticas e comportamentais! Então, o atrás descrito leva-nos a questionar: as competências técnicas, certificadas pelas habilitações que os agentes desportivos têm de fazer prova, são o requisito único, são o requisito bastante para que estes líderes possam exercer condignamente as suas funções?

Na nossa opinião, obviamente que não! As competências técnicas terão de ser fortemente acompanhadas, diria melhor, impregnadas de competências comportamentais, as pessoais, as emocionais e as sociais. Só assim será possível gerir de forma ética o grupo de crianças ou jovens, evitando-se exemplos que possam marcar muito negativamente quem está numa fase de forte formação do carácter, facilmente influenciável pelos adultos, muitas vezes seus ídolos.

Ser treinador principal, ou adjunto, ou estagiário, delegado, seccionista, fisioterapeuta, massagista, médico ou roupeiro, numa equipa da formação, exige responsabilidades acrescidas. Além de demonstrarem as competências técnicas inerentes às funções que desempenham, terão de ser capazes de identificar as expetativas e necessidades de desenvolvimento integral dos seus atletas nas suas múltiplas dimensões, não só física, mas também cognitiva, social e afetiva. A tomada de consciência do seu papel de “Exemplo“, aquele que serve de inspiração , aquele que é admirado, cujo comportamento é imitado, terá de passar pelo próprio conhecimento de si, pelo conhecimento do forte impacto que suscita. Impacto indelével na formação de crianças e jovens que se querem mais completos e preparados para enfrentar não só os desafios desportivos, mas, simultaneamente, os desafios da vida.

Urge deste modo que todas as entidades envolvidas na formação dos diferentes agentes desportivos:

– tomem consciência e consciencializem da importância da formação comportamental!
– apostem, além obviamente do empenhamento técnico, igualmente em todas as vertentes da formação comportamental.

Todos temos de ter consciência de que é importante, mas não é suficiente, invocarmos que somos um Clube Certificado, que temos a Bandeira da Ética, que fazemos Ações de Formação para todos, envolvendo inclusivamente os Encarregados de Educação, quando, depois, à primeira provocação ou adversidade temos comportamentos que nos deviam envergonhar, que vêm manchar e põem em causa o bom trabalho desenvolvido.

Caberá às associações desportivas um papel fundamental na reversão do estado atual do futebol de formação. Com um forte empenhamento na formação de todos os seus agentes desportivos, através das suas academias de formação. Em prol de um melhor “Futebol“, de forma a que o mesmo possa ser considerado socialmente uma autêntica  “escola de valores“!

Artigo de opinião de José Carlos Loureiro, Vice-presidente da AFL, e Embaixador da ética no desporto – PNED /IPDJ.